segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ecoturismo: onde está o problema?



O que há de mais forte que escutar o grito dos lêmures indri  que rompem o silêncio ao amanhecer? Nós estávamos no Parque Nacional de Andasibe Perinet em Madasgascar, acompanhados de uns trinta ecoturistas, eu tinha percorrido a floresta para ver um dos lêmures mais raros e mais carismáticos. Amontoados ao pé de uma árvore, nós esperávamos que o indri viesse cantar...um canto que foi marcado pelos barulhos das filmadoras e dos clicks dos aparelhos fotográfico, e pelos susurros entusiasmados de nossos ecoturistas. Um de nós então recuou um passo e disse com um pequeno sorriso "e eles chamam isso de ecoturismo?" Isto foi uma boa observação.

Depois de uma década, o ecoturismo está presente como a solução que permite de conciliar o desenvolvimento econômico e a durabilidade do meio ambiente. Se trata de um cenário de paridade: turistas afortunados que pagam somas altas para ver a vida selvagem do outro lado do mundo. Ecolodges(locais de hospedagem em áreas preservadas) e ecoviajantes tem  surgido um pouco em cada parte do mundo, e em certos lugares o negócio é rentável: o turismo ao redor dos gorilas da Ruanda e da Uganda é uma ilustração perfeita. Os favoráveis ao ecoturismo dizem que ele gera renda que permite de proteger a natureza, de criar empregos para as populações locais e de sensibilizar outras culturas. Enfim, a solução ideal. 
Mas isto é verdadeiramente o caso? 
Caso os discursos líricos sobre o potencial do ecoturismo são baseados em uma equação simplista segundo a qual, o turismo é igual a proteção do meio ambiente, e esquecem de ressaltar os eventuais impactos negativos deste setor.
Lemur de Indri
Um dos principais problemas é o grande número de visitantes em certas áreas preservadas. Cenas indênticas a estas dos lêmures indri em Madagascar, podemos ver a cada dia em qualquer parte do mundo. Quanto mais ecoturistas em torno dos animais para fazerem belas fotos, mais os animais riscam de se sentirem estressados, e mais os guias se sentem na obrigação de satisfazer os clientes levando-os cada vez mais para perto dos animais.

caranguejo-ermitão
O comportamento de certo ecoturistas pode também causar problema. Quem entre nós, um dia, já pegou um bela concha em uma praia para guardar de lembrança? Temos o sentimento que elas são inesgotáveis por encontrarmos em todas as praias do mundo. Elas são igualmente vendidas como lembranças e utilizadas para fabricar bijuterias destinadas aos turistas. Mas a colheita de conchas tem consequências desastrosas para o ambiente marinho. Nas Maldivas, por exemplo, os turistas levam grandes quantidades de conchas que servem de casas para os caranguejos-ermitões, e na falta delas eles procuram refúgios em botões de rádios ou em capas de canetas que são jogadas nas praias.
O ecoturismo traz outros problemas, enganosos e menos visíveis. Esta indústria impõe novos métodos, criando novos ambientes para satisfazer os gostos de seus clientes. Os ecoturistas tem geralmente a sua frente ambientes aritificiais e não de paisagens selvagens e intactas como eles imaginam. Constroem praias, suprimem manguezais, cavam pontos de água, deslocam populações e devastam as florestas para dar lugar as infra-estruturas turísticas.
A produção dessas novas paisagens, tem evidentemente consequências ecológicas e sociais. Para que centenas de zonas naturais venham a ser visitáveis, as comunidades locais são frequentemente forçadas a deixar o ambiente em que vivem, às vezes com uma extrema violência: pensamos notadamente aos exemplos do Parque Nacional Kruger e do Serengeti. Mas recentemente, a ONG Refugiados Internacional estima que 2000 famílias foram perseguidas e retiradas do Parque Nacional de Nechisar na Etiópia no momento em que a Fundação dos parques africanos forneceu os fundos para fechar o parque e instalar as infra-estruturas turísticas; ela portanto bateu em retirada em 2007 frente ao oposicionosmo dos grupos de defesa dos direitos humanos, mas isto é apenas uma parte do problema. 
As zonas turísticas na verdade foram criadas em meio de um arsenal complicado de leis e regulamentações  complexas, permitindo o controle da situação e da utilização dos recursos pelas comunidades locais sobre as regiões de visitas turísticas. Certas formas de agricultura e de pastagens foram interditadas, assim como a caça de subsistência, a coleta de frutos e de madeira para uso como combustível. Essas novas legislações destinadas à proteger as "regiões selvagens" estimulam a marginalização progressiva das comunidades locais. Seus direitos à exploração de importantes recursos são abafados para permitir o acesso dos ricos turistas provenientes do mundo inteiro.
O ecoturismo não representa mais uma solução de proteção das espécies. Segundo o WWF 80% dos habitats dos elefantes se situam fora dos parques nacionais nas zonas que eles dividem com as comunidades humanas e, nas quais, eles são poucos numerosos. Mas os ecoturistas oriundos de longe querem ter a segurança de ver grandes manadas evoluir no meio de uma natureza idílica que corresponde a imagem que eles fazem do paraíso selvagem, e sobretudo, desprovido de humanos.
Mas para indenizar as populações locais pelo abandono de seus direitos em função de terceiros, são prometidos à eles empregos nas agências de ecoturismo criadas recentemente, e são estimulados à venda de artesanatos aos turistas. Porém, na realidade, a criação de empregos é muito reduzida, e estes são geralmente mal pagos e de poucas vantagens. As populações locais ocupam efetivamente postos de serventes, guias, jardineiros, faxineiras, mas não são geralmente elas que possuem as agências de ecoturismo, nem que ocupam os cargos mais importantes. Mas, vai lhes faltar, digamos, competências e qualidades para ocuparem tais cargos, mas estes não são mais que pretextos, e uma das principais dificuldades as comunidades locais de encontrarem parcerias sérias com os viajantes estrangeiros. As comunidades passam por decepções em relação ao que foi prometido à eles. 
O ecoturismo não é, sem duvida a solução, muito menos a certeza, o cenário paritário  do modelo ecologicamente correto de fazer turismo, custa caro para seus adeptos. Todos nós precisamos estar mais vigilantes, e não acreditarmos cegamente no marketing e nas campanhas que existem, que possamos admitir que não existe turismo que não traga problemas para o meio ambiente. 
Portanto, para resumir, a ideia segundo a qual o ecoturismo permitiria o desenvolvimento econômico sustentável e protegeria a natureza, é de uma esperança ingênua.


Rosaleen Duffy est professeur de politique internationale à l’université de Manchester. Elle a écrit Nature Crime : How We’re Getting Conservation Wrong(Yale University Press)
Traduzida para o português: Nara

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