quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A melhor idade

Todas as manhãs eu e meu filho compravamos croissants na padaria, e sempre encontravamos muitos idosos que aproveitavam para caminhar com seus cachorros, andar de bicicleta, ou um bom bate-papo com amigos na porta de suas casas. Uma dessas manhãs encontramos dois senhores que discutiam na calçada. Um deles me chamou e disse:
_Gostaria de falar-lhe madame um minuto por favor, é sobre seu filho.- falou um deles de mais ou menos 80 anos.Surpresa me aproximei e ele continuou:
_ Quero dizer que a senhora tem um filho muito educado e gentil, pois todas as manhãs ele passa e nos diz "bonjour" e nos dar alguns minutos de atenção. Hoje em dia são raros os jovens que são educados e muitos nem nos cumprimentam.Por isso queria lhe falar!- o outro senhor que estava ao seu lado com um sorriso e um balançar de cabeça confirmou o que seu amigo acabava de falar.
Claro que fiquei orgulhosa, e respondi que o exemplo que tento passar para meus filhos como o maior tesouro do ser humano é o respeito ao proximo, independente de raça, idade ou sexo, a mesma educação que recebi de meus pais. 
Havia outro vizinho nosso, um senhor de 89 anos, 1.75 m, de rugas marcantes, olhos azuis, eu o chamava de "Senhor das rosas" pois em sua casa ele tinha um jardim com rosas de todas as cores e tamanhos, e sempre parava para admira-las. Até que um dia encontrei ele sentado em frente à sua casa como se estivesse esperando alguém passar. Para minha surpresa ele me chamou e perguntou se eu iria voltar e que ele iria esperar pois tinha um presente para mim. Expliquei que iria ao correio mas voltaria logo. Ele retornou para o banco como se estivesse cumprindo uma missão. Ao voltar ele levantou-se e escolheu uma linda e perfumada rosa vermelha do seu jardim e me presenteou com um sorriso me dizendo "obrigada pela atenção e ofereço esta flor para uma bela mulher".
São momentos como este que fazem a diferença em nossa vida, fiquei feliz e durante algumas semanas não o vi em seu jardim e percebi que as flores começavam a murchar como se não houvesse mais alguém para cuidar delas. E um belo dia perguntei ao senhor que morava ao lado, e ele me disse que ele havia falecido ha duas semanas. Desse belo encontro em uma manhã de sol que me fez lembrar o Brasil, ficou guardada a rosa que recebi do "Senhor das rosas".


E continuamos à perceber que a falta de respeito as pessoas de melhor idade  eram comuns. Nos ônibus e paradas, o derespeito continuava. É comum as pessoas nos perguntarem nossa nacionalidade, e quando falamos "do Brasil" elas sorriam e dizem "por isso que vocês são gentis".
Outro fato interessante se passou em uma de minhas viagens para a cidade de Besançon à 30min de Dole de TGV. Ao meu retorno durante uma dia de curso, cheguei atrasada na estação e corri para pegar meu trem. Na escada encontrei uma senhora de 73 anos, com dua grandes malas que olhava ao seu redor à espera de alguém que à ajudasse. Prontamente parei e ofereci ajuda, ela me agradeceu e disse que tinha desistido de pedir auxilio, pois as pessoas não lhe davam atenção. Peguei sua bagagem e levei até seu ponto de partida e por coincidência íamos no mesmo trem. Ela me agradeceu e fomos conversando durante a viagem . Ela me contou que estava de férias na casa de seu afilhado, era viuva ha 3 anos e não tinha filhos. Falamos de viagens e ela me disse que sempre viajava pelo mundo quando seu marido era vivo e que antes de ele falecer pretendiam conhecer o Brasil, pois ele sonhava de ir um dia conhecer a floresta amazônica.
Na França 20 milhões de pessoas tem mais de 60 anos, ou seja 20%  da população. A maioria vivem sozinhos.

"A Melhor Idade é aquela em que não contamos o tempo, e sim quando vivemos o tempo, proporcionando felicidade a nós mesmos e a todos ao nosso redor".

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